Sex, Nov 22, 2024
Três convidados — um psicólogo, um policial militar e um antropólogo — defenderam o enfrentamento mais efetivo à violência contra a mulher no talk show Eles por Elas, realizado nesta quinta-feira (28). Última iniciativa do Março Mulheres, que este ano destacou o empoderamento feminino, o talk show foi mediado pelo jornalista Aluizio de Oliveira, da TV Senado. Na apresentação, o diretor-executivo de Gestão, Marcio Tancredi, destacou o trabalho não apenas acadêmico dos três convidados, mas também sua atuação em favor dos direitos das mulheres.
O psicólogo e professor Alfredo de Morais Neto, de Feira de Santana (BA), disse que a violência psicológica deve ser também uma preocupação no combate aos abusos contra as mulheres. "A violência física deixa marcas no corpo, a psicológica deixa marcas na alma. E nós não aprendemos isso na escola. A grande maioria das mulheres não entende a violência psicológica, porque ninguém educou nem os homens nem as mulheres sobre esse tipo de violência", disse.
Segundo o psicólogo, não se ensina sequer o que é importunação sexual, muito menos a quem tem menos acesso à informação. Essa preocupação, insistiu, precisa ser de todos, inclusive na educação dos próprios filhos. "Será que estamos educando aqueles que estão do nosso lado sobre enfrentamento da violência?", perguntou o psicólogo, que também é membro da Polícia Militar da Bahia.
No trabalho realizado com agressores, inclusive policias militares, ele utiliza o psicodrama para “recodificar” o cérebro desses homens para que eles não voltem a praticar violência contra as mulheres. "A gente entende que essa recodificação, em nível educacional, é mais profícua. A gente tem uma reincidência mínima desses homens agressores, com um sucesso de 80% no trabalho em Feira de Santana", garantiu.
Universo masculino
O sargento da PM de Santa Catarina e presidente da Associação Nacional de Praças (Anaspra), Elisandro Lotin de Souza, apresentou dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo os quais 40% das mulheres que atuam na segurança pública — como policiais militares, bombeiros militares, policiais civis, agentes da Polícia Federal e trabalhadoras do sistema prisional — sofrem assédio moral e assédio sexual dentro dos seus locais de trabalho, como delegacias e quarteis. "É preciso fazer algo em relação a esse absurdo. Segurança pública é um universo extremamente masculino, e as mulheres sofrem as consequências disso no seu dia a dia. É preciso também externar essa realidade das mulheres policiais que são vítimas da violência por serem mulheres", defendeu.
Ele mencionou também as discussões entre as profissionais para que se garantam a elas coletes específicos, pois o corpo feminino é diferente do masculino, e banheiros e alojamentos mais bem preparados para elas, temas muitas vezes negligenciados, pois, disse o sargento, a segurança pública é “um universo masculino, dos homens para os homens”. "Mas há mulheres que precisam ser respeitadas nos seus direitos mais básicos. A gente não tem como enfrentar e combater a violência contra a mulher lá fora se as nossas mulheres aqui dentro [dos quarteis e delegacias] são aviltadas nos seus direitos mais básicos todos os dias", disse.
A violência contra as mulheres, no entanto, não é só física e psicológica, mas também é violência ao não reconhecer as especifidades de gênero. "A luta contra a violência às mulheres da segurança pública precisa se intensificar muito mais. E agora com a Reforma da Previdência, por exemplo, as mulheres vão perder o direito à aposentadoria especial, vão igualar aos homens, e todos vão ficar com idade mínima de 35 anos, ou seja, prejudicando ainda mais as mulheres do que os homens", disse.
Agressividade desde a infância
Para o antropólogo Sirley Vieira, de Pernambuco, é importante pensar no processo de socialização masculino e feminino, que estimula e valoriza a agressividade nos homens. No entanto, disse, esse modelo é prejudicial não somente às mulheres, mas também aos homens. "Mas os homens não percebem esse prejuízo, porque esse modelo traz muitos privilégios também. Para abrir mão desses privilégios, é muito difícil", afirmou
Não é por outro motivo, disse, que 51% da população brasileira é feminina e 49%, masculina, apesar de nascerem mais meninos do que meninas. Segundo ele, os homens são a maioria quase absoluta dos acidentes de trânsito e dos assassinatos no país, resultado do tipo de socialização existente na vida dos homens.
Sirley Vieira relatou sua experiência, em Pernambuco, com adolescentes e jovens, todos do sexo masculino, para que eles reflitam sobre a violência na vida deles. "Desde o tempo que estou no Instituto Papai, faz 14 anos, trabalhei diretamente com quase 700 jovens e adolescentes. Hoje eu tenho contato com cerca de 100 deles por meio de redes sociais. Desses 100, apenas um, nessa trajetória, foi preso, e não por violência contra a mulher", disse.
O antropólogo também ressaltou que, assim como muitos homens cometem violência contra as mulheres, um número maior deles não comete. Mas os agressores, disse, ficam em evidência.
O talk show Eles por Elas integra uma série de ações realizadas no Senado no mês de março, visando a valorização da mulher. O Março Mulheres é uma iniciativa conjunta da Diretoria-Geral, da Procuradoria Especial da Mulher, do Comitê de Gênero e Raça do Senado e do Programa Pró-equidade de Gênero e Raça, com apoio da Secretaria de Comunicação Social, responsável pela produção das peças publicitárias por meio da Coordenação de Publicidade e Marketing, da Secretaria de Relações Públicas, Publicidade e Marketing.
Com informações da Agência Senado