Enerp debate extinção dos regulamentos disciplinares
A legislação regulamentar das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares estaduais no Brasil foi o primeiro de tema debate do 11º Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp), em Manaus, na noite de quarta-feira (23/9). A revisão e até a extinção dos regulamentos disciplinares foi a principal defesa dos debatedores.
Para o advogado José Júlio Cesar Correa, as instituições militares não devem considerar o regulamento disciplinar a norma mais importante que rege as relações nos quartéis. “Em minha opinião é o Código Civil”, disse o ex-oficial da Polícia Militar do Amazonas. Ele também defendeu o uso dos estatutos das policiais militares acima dos chamados RDPM – a exemplo do que é o Código Civil para a sociedade. Correa explicou que ao colocar o regulamento disciplinar acima dos estatutos e se ater mais ao controle da hierarquia e da disciplina, se esquece de outros direitos dos militares estaduais. Aos participantes do Enerp, Correa apresentou uma proposta de defesa das entidades representativas de praças do país: uma estrutura mínima e padronizada das legislações militares. “Hoje a PM no Brasil é uma só, apesar de algumas pequenas diferenças em cada Estado. Esse é o primeiro passo para defender o ciclo completo de polícia”, afirmou, se referindo a outra bandeira da Anaspra. Diretor Regional Nordeste da Anaspra e da Associação dos Bombeiros Militares do Rio Grande do Norte, o soldado Rodrigo Maribondo Nascimento também defendeu a reforma do regulamento disciplinar como primeiro passo para dar dignidade aos policiais e bombeiros militares. “Como você quer que o policial trate as pessoas com respeito se ele mesmo não é tratado assim dentro dos quartéis?”, questionou. Outra forma de melhorar as relações internas nos quartéis, disse, é a instituição do ingresso único na carreira militar, através de concurso público para soldado. “Dessa forma todo coronel vai ter sido soldado um dia.” Direitos e cidadania Adaptar os direitos dos policiais e bombeiros militares aos direitos sociais da Constituição Federal de 1988 é a principal proposta do advogado e membro do Conselho Nacional de Direitos Humanos Rildo Marques. Segundo ele, as instituições de defesa dos direitos humanos também atuam por melhores condições de trabalho e por mais cidadania aos policiais e bombeiros militares. “O movimento nacional de direitos humanos não aceita que a punição disciplinar seja tratada como um castigo dentro das corporações”, afirmou. Apesar de defender a extinção dos regulamentos disciplinares, o presidente da Associação de Praças de Minas Gerais (Aspra/MG) e diretor jurídico da Anaspra, sargento Marco Antônio Bahia Silva, se posicionou contrário à desmilitarização da Polícia e do Corpo de Bombeiros. Ele considera que é possível ter cidadania e ser militar, e usou a experiência de Minas Gerais, que trocou o RDPM por um código de ética. “Minas Gerais é o exemplo de que pode ser militar e cidadão”, disse. Além de apresentar sua posição a respeito da legislação militar, Correa, como um dos debateres do Enerp, destacou o evento como um marco para a segurança pública no país por causa das potencialidades de mudança almejadas pelos participantes. “Estamos construindo uma política de segurança pública, com a participação de quem realmente executa a segurança”, explicou. Durante sua palestra o advogado Rildo Marques apresentou publicamente uma novidade. A Anaspra foi eleita e convidada para fazer parte do Conselho Nacional de Direitos Humanos ao lado de outras entidades nacionais. Abertura A abertura das atividades do 11º Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças (Enerp), em Manaus, nessa quarta-feira (23/9), foi feita pelo presidente da Associação de Praças do Estado do Amazonas (Apeam), soldado Gerson Feitosa, e o vice-presidente da Anaspra, sargento Eliabe Marques da Silva. A escolha do Estado amazonense como sede do Enerp se deveu ao trabalho político e organizativo desempenhado pela diretoria da Apeam e também para aproximar a região Norte do movimento de praças do Brasil. Feitosa destacou que, apesar de a Apeam ser uma entidade de criação recente, tem conquistado a confiança e a legitimidade perante os praças amazonenses. Por outro lado, o representante da Anaspra apresentou a meta do encontro. “Nosso objetivo é conquistar melhorias aos profissionais da segurança pública para, dessa forma, melhorar a vida da população”, declarou Eliabe. Além do Amazonas, estão presentes no Enerp delegações dos Estados de Roraima, Rondônia, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Maranhão. O presidente da Anaspra, cabo Elisandro Lotin de Souza, esteve ausente no primeiro dia do evento por causa das mobilizações da Associação de Praças de Santa Catarina – entidade que ele também preside. O Enerp vai até a sexta-feira (25/9). Veja o álbum de fotos: