“Por que se é dito que os policiais são violentos? Porque nós somos produtos de uma sociedade que é violenta. Policiais não vêm de Marte, vem do seio dessa sociedade violenta, e ainda com a missão de pacificar essa sociedade, ou seja, há um grande conflito.
” Com esse questionamento o presidente da Associação Nacional de Praças (Anaspra) e da Associação de Praças de Santa Catarina (Aprasc), cabo Elisandro Lotin de Souza, abriu sua palestra na mesa Homicídios, direitos humanos e acesso à justiça, durante a programação de quinta-feira (30/07) do 9º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Lotin destacou a estatística de que morrem 53 mil pessoas por ano no Brasil. “Em 30 anos, morreram no Brasil cerca de 1 milhão de pessoas, isso é muito mais que uma guerra.”
O presidente da Anaspra abordou a formação institucional das polícias militares, passando criação das corporações até a formação dos agentes, para demonstrar que os militares são tão vítimas quanto a sociedade da criminalidade e dos homicídios. E ainda criticou a pouca visibilidade que se dá quando morre um policial ou bombeiro em função de sua profissão. “A vida de um policial vale menos que de outras pessoas? Poucas pessoas sabem que morrem cerca de dois mil policiais por ano”, disse.
Além de abordar o alto grau de letalidade que a profissão acarreta a quem está de serviço, Lotin ainda refutou alguns pesquisas que afirmam que maior parte das mortes de policiais se dá em função da atividade fora da corporação, nos chamados “bicos”. “Não é tapar o sol com a peneira, mas é preciso desconstruir isso, pois não há nada que comprove que isso é verdade, que esses números estão corretos. Agora reputar morte fora do serviço como sendo atividade de bico é um absurdo. Policiais morrem porque são policiais”, argumentou.
O presidente da Anaspra apresentou ainda a posição contrária da entidade em relação o trabalho extra pelo policial ou as tentativas de governos estaduais de “institucionalizar o bico”. “Nós somos contra o bico. Quer dizer então que o policial não tem direito ao descanso? Policial deve sim ter direito a salário digno e jornada de trabalho estabelecida. Nós, operadores da segurança, por exemplo, não temos periculosidade e insalubridade, ao contrário dos vigilantes privados.”
Entre as medidas para superar o número de homicídio de policiais, Lotin defendeu políticas públicas que levem mais respeito aos profissionais da segurança e mudanças na legislação para proteger mais e melhor os policiais, além de diminuir a impunidade relacionada a esses crimes. A recente sanção da lei que torna o assassinato de agentes da segurança em crime hediondo vai nesse caminho. “Como respeitar direitos humanos se os policiais não têm seus próprios direitos humanos minimamente respeitados?", questionou. “Estamos dizendo há 20 anos que o modelo de segurança pública está sucateado e ninguém faz nada. Como uma polícia antidemocrática vai cuidar de uma sociedade democrática?”
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